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sábado, 16 de dezembro de 2017

Internet (O Moderno Palimpsesto)


José Antônio da Silva Barros
Do grego palim (de novo) e psesto (raspar) palimpsesto é uma espécie de pergaminho que depois de lavado e raspado era reutilizado para escrever outros textos, uma vez que, na época era mais fácil e barato reutiliza-lo do que fabricar outro. Muitos textos antigos que foram escritos utilizando esse processo ficaram registrados e não foram totalmente removidos formando com o tempo várias camadas superpostas, as quais ficaram invisíveis e hoje graça as modernas técnicas radiográficas puderam ser recuperadas.

Na quadra  que temos a ventura de viver, a internet pode ser comparada a um moderno palimpsesto, no qual não apenas as palavras, mas também, sons, imagens e cores podem remeter igualmente remeter a outras palavras e imagens. Com efeito, temos presenciado nos últimos anos uma verdadeira revolução no campo da informação. Essas transformações provocaram mudanças radicais na estrutura de todas as atividades humanas, tendo como corolário modificações no comportamento dos indivíduos e da sociedade. É o que se convencionou chamar de revolução digital dominada pelos computadores cuja linguagem permite transforma-lo num recinto, no qual o virtual e o real se confundem alterando sobremaneira a noção de tempo e espaço.

Com o advento dos computadores, a tecnologia deixou de ser apenas uma extensão do corpo humano, ou melhor, de um instrumento com o qual se executava um trabalho para provocar uma verdadeira imbricação homem/máquina.

A linguagem digital utilizada pelos computadores pode processar e levar   dados que superam todas as tecnologias anteriores, tornando-se um misto de todas elas. Os escritos de outrora, em que estão narrados os fatos vividos, assistidos e do qual participaram nossos ancestrais ainda podem ser lidos. Estão gravados nos pergaminhos, nos monumentos, nos alfarrábios e até nas inscrições rupestres como testemunho vivo da história. Como se vê, a durabilidade da memória dos nossos antepassados estava garantida porque foram registradas em objetos físicos. Por isso, atravessaram fronteiras, venceram o tempo e chegaram até nós . No entanto, grande parte da memória atual, que é a memória dos computadores onde estão armazenadas o acervo  iconográfico, os registros históricos, os eventos e todo o conhecimento produzido pela sociedade moderna não está fixada fisicamente. Permanece invisível nos chips dos computadores, podendo, muitas vezes, ser deletada deliberadamente ou por negligência como acontece amiúde. Muitos textos como edições inteiras de jornais e livros já foram perdidas dessa maneira.

Assim, a vida com todas as suas inúmeras vicissitudes pode ser comparada, sem nenhum exagero, a um palimpsesto, no qual as várias fases de nossas vidas vão formando camadas indeléveis sobrepostas que se acumulam ao longo de nossa existência. Em outras palavras, nossa vida  está sempre sendo escrita e reescrita diuturnamente e tal qual um palimpsesto é possível ler o novo sobre o antigo e o antigo sobre o novo. É ali onde estão registradas nossas frustrações, decepções, alegrias e tristezas. De resto, é uma forma de deixar o legado de nossas experiências, nossas conquistas, nossas idiossincrasias para a posteridade, e, assim, estabelecer o inevitável dialogo com o passado e com o futuro da nossa espécie.