“Não há esperança de
sobrevivência humana sem homens
dispostos a dizer o que acontece, e acontece porque é.” (HANNA ARENDT)
É-nos extremamente difícil
imaginar a atividade política sem o embate das idéias. Fazer política é ter
planos, projetos, propostas, idéias e propugnar por elas. É ter um programa
viável com prioridades definidas e sem planos mirabolantes. É ter convicções
políticas e ideológica pelas quais se
deve lutar com denodo. É, antes de tudo,
conquistar corações e mentes. Para a concretização dessa objetivo e conquistar
o poder por meios legais através de eleições livres, é necessário a existência
de um partido político estruturado, com um conteúdo ideológico que possa
orientar suas ações e identificado com os anseios mais legítimos do povo. Tudo isso é ponto
pacifico. Entretanto, não é o que acontece
hoje no Brasil e nos
deixa deveras preocupados. A bem da
verdade, o que temos na realidade, são meras legendas de aluguel as quais
os políticos estão sempre se filiando quando estas estão em evidencia, rendendo votos ou
condicionando seu apoio em troca de benesses. É vezo de todos eles trocarem
de partido, de acordo com
seus interesses pessoais e, muitas vezes
inconfessáveis. Parece que a única solução para extirpar algumas práticas nocivas da política
brasileira e suas conseqüências nefastas
seria uma reforma política radical, com
o fito de erradicar esses vícios de que padece a nossa política e adotar, entre
outras medidas, o instituto da fidelidade partidária, o estabelecimento da
clausula de barreira, a proibição de coligações
em eleições proporcionais et
caterva. Não se pode conceber que um candidato que é eleito com uma proposta na
qual muitos acreditaram anuncie inopinadamente o seu desligamento do partido ao
qual está filiado. Daí o fisiologismo, o
clientelismo, os conchavos, a corrupção generalizada, uma vez que em política
tudo é factível.
Preliminarmente, é preciso chamar
a atenção para o fato de que o homem é um ser gregário e, como tal, não pode
prescindir do concurso de seus semelhantes. A sociedade nos moldes em que está
organizada hoje não atende as necessidades básicas de seus cidadãos. A vida em
sociedade é uma exigência da natureza
humana. Ao se reunir para viver em
grupo , o homem assume deveres e adquire direitos. O estado,
por seu turno, deve satisfazer as
necessidades mais prementes da população
e promover o bem comum. A partir do momento que deixa de atender essas
necessidades pode desencadear o descontentamento, culminando ipso facto em
convulsão social. Efetivamente, nos últimos anos, o país tem vivido em estado de pré-convulsão social
que - diga-se de passagem - é uma situação que não pode durar indefinidamente.
O desenvolvimento econômico deve
estar atrelado ao desenvolvimento social. O país experimentou é, verdade, nas
ultimas décadas um crescimento que o
coloca entre as dez maiores economias do
mundo ocidental. Em contrapartida, os nossos
indicadores sociais nos colocam
ao lado das nações mais atrasadas do planeta. É preciso ter em mente que
crescimento não é progresso. Só podemos falar em desenvolvimento quando todos
compartilham desse crescimento, que é a única forma de corrigir as anomalias
sociais.
Estamos ás vésperas de novas
eleições. Desta vez, para eleger prefeitos e vereadores em todas as cidades do
país. Como sempre acontece nessas
ocasiões, encara-se as eleições como se
fossem uma panacéia capaz de
resolver de imediato todas as mazelas
que assolam o país. Contudo, a simples alternância no poder não vai
equacionar os problemas que afligem o povo. Os candidatos, na sua grande
maioria, despreparados e sem nenhuma experiência no trato da coisa publica
passam a maior parte do tempo se digladiando sem apresentar propostas sérias e
exeqüíveis para que todos possam
analisá-las.
Os políticos devem atentar para o
fato de que não bastam apenas eleições; A crise que atravessa o país não é
somente de homens. As instituições precisam ser fortalecidas, a fim de que se possa construir uma sociedade realmente
livre. A simples alternância no poder, a mera troca de pessoas não será suficiente para
assegurar a existência de uma
sociedade justa e que atenda aos
interesses da maioria.
Os candidatos, por seu turno,
agem como se votando neles tudo será resolvido. É como se fossem
autossuficientes. Declaram-se capazes de equacionar todos os problemas da vida
social. Não é assim que as coisas funcionam. As instituições políticas são
muito importantes para o funcionamento da democracia. Só podemos viver sob a
égide da verdadeira democracia quando as instituições estão funcionando
plenamente, ou melhor, quando todos acreditam nos homens e nas próprias
instituições. Vale ressaltar que uma sociedade precisa ser disciplinada por
leis, normas, preceitos e não por capricho daqueles que ocupam momentaneamente o poder. Não basta votar. É
preciso chamar a atenção para estas
questões que são de importância fundamental para a compreensão
da realidade política do nosso país, máxime por porte dos que tem a
responsabilidade de conduzir os destinos
da nação.
As instituições, as pessoas e as coisas estão cada vez mais
desacreditadas neste país. O povo continua a mercê de políticos
inescrupulosos e corruptos que só tem contribuído para o atraso. A
verdade é que eles têm interesse em manter esse estado de coisas. Alienado e
sem consciência política, o povo fica cada vez mais vulnerável aos engodos. Com
efeito, enquanto a maioria dos eleitores trocar seus votos pelas migalhas que
caem das mesas dos políticos continuará a conhecer a angústia a fome e a
miséria. Com isso, cria-se o que se convencionou chamar a cultura da “servidão,
submissão e dependência” que impede os cidadãos de serem senhores de seu
próprio destino.
O país vive momentos cruciais de
sua história. Estamos ainda no primeiro quartel do século em curso que
certamente será de grandes realizações em todos os campos da atividade humana.
Escusado dizer que para acompanhar essas transformações é preciso estar
preparado. É de capital importância forjar estadistas com capacidade
administrativa e tirocínio político. Esta é uma tarefa que cabe também ao povo
que tem nas mãos o instrumento perfeito, que é o voto, com o qual poderá
escolher para representá-los homens sérios, competentes e imbuídos dos melhores propósitos.
Por: Jose Antonio Da Silva Barros