Mr Ynet

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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Não Basta Votar

“Não há esperança de sobrevivência  humana sem homens dispostos a dizer o que acontece, e acontece porque é.” (HANNA ARENDT)

É-nos extremamente difícil imaginar a atividade política sem o embate das idéias. Fazer política é ter planos, projetos, propostas, idéias e propugnar por elas. É ter um programa viável com prioridades definidas e sem planos mirabolantes. É ter convicções políticas e ideológica  pelas quais se deve  lutar com denodo. É, antes de tudo, conquistar corações e mentes. Para a concretização dessa objetivo e conquistar o poder por meios legais através de eleições livres, é necessário a existência de um partido político estruturado, com um conteúdo ideológico que possa orientar suas ações  e identificado  com os anseios mais  legítimos do povo. Tudo isso é ponto pacifico. Entretanto, não é o que acontece  hoje no  Brasil  e  nos deixa  deveras preocupados. A bem da verdade, o que temos na realidade, são meras legendas de aluguel  as quais  os políticos estão sempre se filiando quando estas  estão em evidencia, rendendo votos ou condicionando seu apoio em troca de benesses. É vezo de todos eles  trocarem  de  partido, de acordo com seus  interesses pessoais e, muitas vezes inconfessáveis. Parece que a única solução para extirpar  algumas práticas nocivas da política brasileira  e suas conseqüências nefastas seria uma reforma  política radical, com o fito de  erradicar  esses vícios de que  padece a nossa política e adotar, entre outras medidas, o instituto da fidelidade partidária, o estabelecimento da clausula de barreira, a proibição de coligações  em eleições  proporcionais et caterva. Não se pode conceber que um candidato que é eleito com uma proposta na qual muitos acreditaram anuncie inopinadamente o seu desligamento do partido ao qual está filiado. Daí  o fisiologismo, o clientelismo, os conchavos, a corrupção generalizada, uma vez que em política tudo é factível.

Preliminarmente, é preciso chamar a atenção para o fato de que o homem é um ser gregário e, como tal, não pode prescindir do concurso de seus semelhantes. A sociedade nos moldes em que está organizada hoje não atende as necessidades básicas de seus cidadãos. A vida em sociedade é uma exigência  da  natureza  humana. Ao se reunir para viver em  grupo , o  homem  assume deveres e adquire direitos. O estado, por seu turno, deve satisfazer  as necessidades mais prementes  da população e promover o bem comum. A partir do momento que deixa de atender essas necessidades pode desencadear o descontentamento, culminando ipso facto em convulsão social. Efetivamente, nos últimos anos, o país  tem vivido em estado de pré-convulsão social que - diga-se de passagem - é uma situação que não pode durar indefinidamente.

O desenvolvimento econômico deve estar atrelado ao desenvolvimento social. O país experimentou é, verdade, nas ultimas décadas  um crescimento que o coloca  entre as dez maiores economias do mundo ocidental. Em contrapartida, os nossos  indicadores  sociais  nos colocam  ao lado das nações mais atrasadas do planeta. É preciso ter em mente que crescimento não é progresso. Só podemos falar em desenvolvimento quando todos compartilham desse crescimento, que é a única forma de corrigir as anomalias sociais.

Estamos ás vésperas de novas eleições. Desta vez, para eleger prefeitos e vereadores em todas as cidades do país. Como sempre acontece  nessas ocasiões, encara-se  as eleições como se fossem uma panacéia capaz  de resolver  de imediato todas as mazelas que assolam o país. Contudo, a simples alternância no poder  não vai  equacionar os problemas que afligem o povo. Os candidatos, na sua grande maioria, despreparados e sem nenhuma experiência no trato da coisa publica passam a maior parte do tempo se digladiando sem apresentar propostas sérias e exeqüíveis  para que todos possam analisá-las.

Os políticos devem atentar para o fato de que não bastam apenas eleições; A crise que atravessa o país não é somente de homens. As instituições precisam ser fortalecidas, a fim de que  se possa construir uma sociedade realmente livre. A simples alternância no poder, a mera troca  de pessoas não será suficiente para assegurar  a existência  de  uma sociedade  justa e que atenda aos interesses da maioria.

Os candidatos, por seu turno, agem como se votando neles tudo será resolvido. É como se fossem autossuficientes. Declaram-se capazes de equacionar todos os problemas da vida social. Não é assim que as coisas funcionam. As instituições políticas são muito importantes para o funcionamento da democracia. Só podemos viver sob a égide da verdadeira democracia quando as instituições estão funcionando plenamente, ou melhor, quando todos acreditam nos homens e nas próprias instituições. Vale ressaltar que uma sociedade precisa ser disciplinada por leis, normas, preceitos  e  não por capricho daqueles que ocupam  momentaneamente o poder. Não basta votar. É preciso chamar a  atenção para estas questões  que são  de importância fundamental para a compreensão da realidade política do nosso país, máxime por porte dos que tem a responsabilidade de conduzir  os destinos da nação.

As instituições, as pessoas  e as coisas estão cada vez mais desacreditadas neste país. O povo continua a mercê  de políticos  inescrupulosos e corruptos que só tem contribuído para o atraso. A verdade é que eles têm interesse em manter esse estado de coisas. Alienado e sem consciência política, o povo fica cada vez mais vulnerável aos engodos. Com efeito, enquanto a maioria dos eleitores trocar seus votos pelas migalhas que caem das mesas dos políticos continuará a conhecer a angústia a fome e a miséria. Com isso, cria-se o que se convencionou chamar a cultura da “servidão, submissão e dependência” que impede os cidadãos de serem senhores de seu próprio destino.

O país vive momentos cruciais de sua história. Estamos ainda no primeiro quartel do século em curso que certamente será de grandes realizações em todos os campos da atividade humana. Escusado dizer que para acompanhar essas transformações é preciso estar preparado. É de capital importância forjar estadistas com capacidade administrativa e tirocínio político. Esta é uma tarefa que cabe também ao povo que tem nas mãos o instrumento perfeito, que é o voto, com o qual poderá escolher para representá-los homens sérios, competentes  e imbuídos dos melhores propósitos.

Por: Jose Antonio Da Silva Barros